Tem mulher na doma? Na doma de cavalos? O repórter Nélson Araújo esclarece em uma reportagem especial as dúvidas de uma estudante de veterinária.
Kênia Dória de Souza Pereira estuda em Juiz de Fora. Gosta de cavalos, acompanha o Globo Rural, já viu várias matérias sobre treino de cavalos e quer fazer o Trabalho de Conclusão de Curso sobre doma racional, mas não conhece mulheres trabalhando na área.
A primeira história do trabalho de mulheres na doma de cavalos, envolve uma mula. Marota, a Mula, como é conhecida, é a primeira mula a participar de um concurso completo de equitação. Ela foi treinada e é montada nas competições por uma mulher.
Instrutora de equitação, veterinária e professora, Claudia Leschonscki orienta a Marota e também o dono dela, o empresário Ricardo Naschold “Você usa técnica para não cair do cavalo, que é o equilíbrio físico, e você usa técnica para convencer os cavalos a fazer o que você quer, sem recorrer a violência física, que é o equilíbrio emocional”, comenta.
Na Universidade do cavalo, em Sorocaba, São Paulo, estudantes e empresários acompanham uma sessão de doma. O que se aprende com os animais pode ser aplicado em diversas relações.
Luis Marins, professor especialista em recursos humanos, fala da diferença do olhar feminino e masculino no processo de contratação de um profissional. “A mulher lê a pessoa ao invés de ler o currículo”, comenta.
A veterinária Ana Vitória Vilela faz o passo a passo do que podemos chamar de doma gentil, uma educação de cavalos, sem qualquer tipo de violência. A professora Claudia vai comentando a abordagem. “Bem educado é ser contrariado e não perder a compostura”.
Dois exemplos que envolvem sensibilidade e cavalos são, a famosa treinadora alemã Silke Valentim, que utiliza um triciclo motorizado para a doma de cavalos, e outro alemão, o treinador cadeirante, Timo Ameruoso, Ele ficou paraplégico depois de duas quedas de cavalo, 20 anos atrás. “Não é força, o homem nunca vai ser mais forte do que o animal, é comunicação. O respeito à natureza é uma das chaves da liderança para um treino bem sucedido”, declara Timo Ameruoso, domador de cavalos.
A veterinária Luzia Duval é uma gaúcha de Dom Pedrito, quase divisa com o Uruguai. Cresceu em um a propriedade em meio a uma criação de mais de 300 cavalos da raça crioula. “O homem tinha que ser mais forte que o cavalo. Uma inversão… E nós fomos montando uma sequência de exercícios de defensibilização e sensibilização, formando esta parceria homem-cavalo cavalo-cavaleiro. Sem nenhuma reação indesejada”, comenta Eduardo Duval.
Luzia é filha de Eduardo Duval, professor universitário, pesquisador de comportamento animal e que mudou o sistema de doma na região. A doma tradicional foi abolida na fazenda da família em 1991.
A família Duval não adota o sistema racional, como faz a doma rotativa, quebrando a crença de quem começa uma doma tem que terminar. A pesquisa de Eduardo Duval com treino coletivo já conta com mais de 200 animais iniciados. “O fundamental é trabalhar todo mundo na mesma linguagem, no mesmo comportamento”, afirma.
Vendo a calma, a força da delicadeza de Luiza, no trabalho com o crioulo, questiona-se o uso da palavra doma. Talvez sim, aplicada à própria pessoa. No sentido de domar-se a si mesmo para não agredir quem quer que seja.
“A gente trabalha com amor e com respeito ao cavalo. Tu vai levar este respeito a todas as relações que tem na sua vida. Chega a ser engraçado porque as pessoas perguntam como pode uma menina pequena, feminina, delicada, ter força para deixar um cavalo manso. Para mim a força que tu tem que exerce sobre um cavalo pra domar é a força da mente. É a partir de que tu pensa que vai dar certo e que tu tá focada no seu objetivo, as coisas dão certo”, declara Luiza.
“Só o amor não é o bastante, o amor é a base que vai te levar para adquirir a técnica. Então, todas estas moças e rapazes que vão seguir este caminho de mexer com cavalo, o amor é o ponto de partida. A sensibilidade eles já têm, mas a técnica é uma coisa que você aprende”, alerta a professora Claudia Leschonscki.
É crescente a participação das mulheres nessa área. Aliás, na Europa, elas são a maioria dos que trabalham com doma e treino de cavalos.
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