1. Introdução

A odontologia é uma área de extrema importância na saúde e bem estar dos equinos, porém, na prática ainda existe um elevado grau de negligência, fazendo com que muitos desses animais sofram de distúrbios odontológicos não diagnosticados (DIXON ; DACRE , 2005).

Habitualmente o Médico Veterinário se depara com alterações dentárias severas que podem comprometer o bem estar animal e suas performances esportivas, sendo a extração do dente, muitas vezes, a única alternativa. Essa técnica cirúrgica, denominada exodontia, tem evoluído muito desde o século XIX, refletindo principalmente no avanço na área de anestesiologia e analgesia veterinária (Tremaine, 2008)

Fonte: Ortovet

  1. Desenvolvimento
    1. As Técnicas

Apesar de existirem diversas técnicas para a realização da exodontia em equinos, a literatura descreve três mais utilizadas, sendo elas a extração intraoral, repulsão e bucotomia minimamente invasiva. Todas exigem os mesmos procedimentos pré-operatórios, tais como lavagem da boca, colocação do espéculo e administração de antibiótico de largo espectro e antiinflamatório não esteroidal tanto antes, quanto após a cirurgia. Além disso, as três técnicas requerem a separação do dente do osso alveolar, o que necessita da disrupção do ligamento periodontal. A ruptura deste ligamento sem causar dano ao osso alveolar ou à vasculatura inerente do LPD é um dos desafios que os médicos veterinários encontram ao realizar a extração dos dentes (Dixon et al. 2005; Tremaine et al. 2011). Contudo, as três técnicas possuem vantagens e desvantagens associadas.

      1. Extração Intraoral

A técnica cirúrgica por meio da extração intraoral é uma das mais seguras, podendo ser realizada com anestesia geral ou sedação. Além disso, envolve menores recursos financeiros, sendo uma das mais utilizadas por médicos veterinários especialistas.

O método consiste na remoção oral de um dente afetado utilizando fórceps extratores após disrupção do periodonto, através da elevação da gengiva bucal e palatinal e colocação de fórceps separadores nos espaços inter-proximais (Tremaine, 2013).

As complicações associadas à extração intraoral são raras, mas podem incluir situações de fratura do dente ou estruturas ósseas envolvidas, assim como danos periodontais. Outras complicações são as formações de fístulas oro-maxilares com desenvolvimento de sinusite bacteriana secundária e infecção alveolar e também, casos de sequestros dentários ou ósseos (Dixon et al, 2009; Tremaine, 2011). Caso haja dúvida quanto à presença de eventuais fragmentos intra-alveolares, devem ser realizados exames complementares pós-extração, tais como radiografia.

2.1.2Repulsão

A extração dentária pelo método de repulsão é a mais tradicional para remoção pré-molares e molares e é indicado sempre que a extração intraoral não é possível. A técnica consiste na extração retrógrada do dente afetado, via um orifício criado no osso maxilar ou mandibular acima do dente alvo (Easley, 2012).

Para que o procedimento seja realizado, o animal deve estar sob anestesia geral, em decúbito lateral com o lado afetado para cima com a boca aberta por meio de um espéculo oral, sendo que as vias aéreas devem estar protegidas pelo tubo endotraqueal.

Durante o processo, pode ser necessário realizar radiografias intra-operatórias por conta de fragmentos de dentes soltos, e também, o auxílio de um assistente faz-se de grande importância, para que o médico veterinário possua orientação ao longo da cirurgia.

Ao contrário da técnica de extração intraoral, o método por repulsão apresenta uma serie de complicações, tais como: fratura do osso palatinal ou lâminas externa ou interna da mandíbula, extração iatrogênica do dente errado, dano do canal naso-lacrimal, formação de fistulas oro-nasais ou oro-cutâneas, dano de um dente adjacente, danos de estruturas nervosas ou vasculares, e sequestros ósseos ou dentários (Schumacher, 2006).

2.1.3Bucotomia Minimamente Invasiva

A técnica de bucotomia minimamente invasiva é relativamente recente e possui algumas vantagens em relação às outras citadas anteriormente. Ela pode ser realizada com o animal sedado, em estação, ou sob anestesia geral e também permite a utilização de instrumentos sem angulação, que possibilitam maior amplitude de movimento e força (Stoll, 2011).

Esse método é indicado em casos de dentes que não podem ser removidos pelo método de extração intraoral, casos em que a aplicação de fórceps separadores e/ou extratores não é possível, e também funcionam como alternativa à extração por repulsão. De acordo com Simhofer (2013), qualquer dente maxilar e todos os mandibulares, exceto as tríades 310/311 e 410/411, podem ser extraídos através desta técnica.

O procedimento mais comum é com o cavalo em estação, sedado em tronco de contenção e deve ser iniciado com a identificação do dente afetado e de estruturas que devem ser evitadas, podendo utilizar tricotomia e canetas de filtro na pele do animal para marcação (Stoll, 2011).

Quando o dente for extraído, é necessário avaliar e inspecionar a cavidade oral como um todo para garantir que nenhum fragmento dentário permaneça na cavidade. As inspeções pós-extração podem ser feitas a partir de palpações digitais, utilização de endoscopia e radiografias.

As complicações associadas à BMI são raras e menores em relação à repulsão. Porém, podem ser citados o risco de lesão dos ramos do nervo facial, artéria facial ou canal parotídeo (Dixon, 2009).

  1. Conclusão

Diante do que foi discutido, é notório que as técnicas descritas de exodontia devem ser realizadas por profissionais qualificados, pois são procedimentos cirúrgicos que envolvem riscos para a saúde e bem estar dos equinos. Apesar de possuírem semelhanças, os procedimentos possuem vantagens e desvantagens associadas e cabe ao Médico Veterinário especialista escolher qual método adotar para o maior sucesso de tratamento do paciente.

Texto por: Beatriz Gonçalves Blanco, 5° semestre, Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, Brasil.

Referências Bibliográficas

CORREIA, Ana Clara Trindade. Odontologia equina e técnicas de exodontia. 2014. 48 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Porto, Porto, 2014.

DIXON. P, M.; DACRE, I.; DACRE, W. H.; TREMAINE, J. Standing oral extraction of cheek teeth in 100 horses (1998–2003).Equine Veterinary journal Equine Vet. J, v.37, n.2, p.105-112, 2005.

DIXON, P. M.; DACRE I. A review of equine dental disorders. The Veterinary Jornal, v. 169, p. 165-187, 2005.

DIXON PM, Hawkes C & Townsend N (2009) “Complications of Equine Oral Surgery” Veterinary Clinic Equine 24, 499–514

DIXON PM & Gerard PM (2012) “Oral Cavity and Salivary Glands” in Auer & Stick Equine Surgery, 339-366

EASLEY J (2012) “Dental Repulsion” in Proceedings of the AAEP – Focus Meeting – Albuquerque, NM, USA

SCHUMACHER, J (2006) “Removal of cheek teeth by repulsion or buccotomy” American Association of Equine Practitioners – AAEP – Focus meeting, Indianopolis, USA.

SIMHOFER H (2013) “Minimally Invasive Buccotomy” American Association of Equine Practitioners – AAEP – Focus on Dentistry, Charlotte, North Carolina, 72-75

STOLL M (2011) “Minimally Invasive Transbuccal Surgery and Screw Extraction” American Association of Equine Practitioners – AAEP – Focus on Dentistry, Albuquerque, New Mexico, 170-178

TREMAINE WH (2008) “Dental Extrations” Proceedings of the 47th British Equine Veterinary Association Congress BEVA – Liverpool, United Kingdom.

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TREMAINE WH (2013) “Advances in the Treatment of diseased equine Teeth” Veterinary Clinic Equine 29, 441-465