Os cavalos são animais de natureza livre, habituados em ambientes com grandes ofertas de pastejo por onde passavamcerca de 18 horas do dia se alimentando, convivendo em bandos familiares e caminhando por longos trajetos. Em busca de facilidades como manejo e controle de sanidade, o homem criou uma nova forma de morada para esses animais, baseado em confinamentos com pequenos espaços e alimentação fornecida em horas regulares do dia. Privados da liberdade, do convívio em bandos e de pastejo intermitente, muitos cavalos retirados do seu ambiente natural convivem com o tédio e ociosidade, se tornam animais ansiosos e desenvolvem comportamentos indesejáveis, chamados assim de estereotipias. DAVIS em 1997, definiu as estereotipias como comportamentos que são repetidos sem nenhuma necessidade óbvia e em 2016 Marseden relata que 01 a cada 10 cavalos possuem um ou mais, comportamentos estereotipados.
Existem muitas estereotipias, dentre elas podemos citar:
Aerofagia
A aerofagia é um dos comportamentos esteriotipados mais comuns entre os animais, consiste na sucção e deglutição do ar. De acordo com estudos feitos por VIEIRA em 2006, não possui distinção de sexo ou raça e pode ser adquirido ou aprendido na medida em que o animal observa outros animais com esse comportamento. TADICH e ARAYA em 2010 estimam que o animal utiliza 6 horas do seu tempo com este tipo de comportamento.
Coprofagia
Coprofagia é um hábito praticado por animais que comem suas próprias fezes. Em potros esse hábito é extremamente comum e não deve ser considerado estereotipado devido à necessidade de desenvolvimento da sua flora intestinal. Já em animais adultos, de acordo com MEYER EM 1995, o comportamento pode se apresentar devido à restrição alimentar por longos períodos de tempo.
Síndrome do Urso(Dança do Urso)
Os animais com esse comportamento tendem a andarem pela baia em círculos, balançarem a cabeça, pescoço e membros lateralizados. Esta síndrome pode ter como consequência o emagrecimento, sobrecarga nas articulações e irritabilidade. (NICOL 2000; RIBEIRO,2013).
Roer madeira
As principais causas desse comportamento podem ser o tédio, limitação da alimentação e até mesmo deficiências nutricionais em minerais. Estudos realizados por VIEIRA em 2006, afirmam que os animais entediados tendem a roer a madeira e logo em seguida, descarta-la. Diferente do comportamento de animais com deficiências nutricionais ou privados longos tempos de alimentação, estes por sua vez, acabam ingerindo a madeira.
A retirada do cavalo do seu estado livre e natural para permanência em um ambiente de confinamento, reflete notoriamente no bem estar desses animais que como resposta a sua insatisfação, começam a adquirir comportamentos estereotipados. Por muitas vezes, esses hábitos são julgados pelo proprietário como um “mau comportamento”, sendo necessário ressaltar que tais estereotipias estão exclusivamente relacionadas a erros de manejo, ambiência, privação de alimentação por um longo tempo, ausência de contato social com outros animais, dentre outros.
Medidas como o enriquecimento do confinamento com diferentes formas de ofertas de forragens, estimulam o animal a gastar mais tempo buscando sua alimentação, evitando momentos de estresse e ociosidade. O convívio e o contato visual com outros animais também são de grande importância para a busca do bem estar, uma vez que a natureza do ser equino, esta relacionada à convivência em bandos familiares.
O bem estar e sanidade desses animais estabulados são fatores primordiais para regressão de comportamentos estereotipados, sendo de grande importância ao criador aproximar ao máximo o animal do seu comportamento natural.
ENRIQUECIMENTO:
Bolsa de feno para cavalos com pequenos espaços para saída do alimento. O animal ingere pequenas quantidades por um longo período de tempo,aproximando ao máximo do seu habitat natural;
Texto por: Loiane Diniz, 6º período da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Betim.
Referências bibliográficas:
MARSDEN, DEBBIE.EquineStereotyoiesExplained. 2016. Disponível em: <https://www.yourhorse.co.uk/advice/horse-behaviour/articles/2016/4/19/equine-stereotypies-explained> Acesso em 16/02/2018
MEYER, H. Alimentação de Cavalos. São Paulo: Livraria Varella, 1995
NICOL, C. J. Recent Advances in Companion Animal BehaviorProblems. Disponível em:
<http://www.ivis.org/advances/2000/Behavior_Houpt>. Acesso em: 14/02/18
STRICKLAND, CHARLENE. StereotypicBehaviors.1997Disponível em: <
https://thehorse.com/14807/stereotypic-behaviors/ > Acesso em 16/02/2018
TADICH, T. A.; ARAYA, O. Conductas no deseadasen equinos.Archivos Medicina Veterinária, v. 42, p. 29-41, 2010.
VIEIRA, A. R. A. Distúrbios de comportamento, desgaste anormal dos dentes incisivos e cólica em equinos estabulados no 1º regimento de cavalaria de guardas, exército brasileiro. Brasília, DF. 47f. Dissertação (Magister Scientiae em Medicina Veterinária) – Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Viçosa, 2006.
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