Os estudos das interações cavalo-humano admitem o uso de técnicas etológicas, mas se concentram principalmente nas habilidades cognitivas e aprendentes (McGreevy & McLean, 2007). Estas podem estar relacionadas ao fato de que muitos sistemas de criação para equinos restringem o espaço e frequentemente não permitem que os animais desenvolvam atividades que são vistas em condições naturais, como por exemplo, locomoção e comportamentos sociais (Christensen et al. 2002).
Em seu meio natural, o cavalo é um animal social, passando a maior parte do tempo em contato direto com os de sua espécie. O grupos de cavalos mais comuns são constituídos por um garanhão e várias éguas com descendentes. Os cavalos jovens deixam seu rebanho natal com aproximadamente 2 anos de idade e se agrupam em outros rebanhos. Cavalos solitários raramente são vistos (Kaseda et al.,1997).
Figura 1: Cavalos em grupo (http://revistagloborural.globo.com/Revista).
Em condições domésticas, o cavalo é submetido predominantemente à um estábulo individual, que limita o contato entre o mesmo e os de sua espécie. Vários estudos afirmam que a ausência de contato social pode ser um dos fatores de estresse mais preocupantes nos cavalos, e sendo esse comportamento social perdido, o mesmo é direcionado para outros objetos inadequados, prejudicando a saúde do animal (Luescher et al., 1991). Os efeitos do isolamento a longo ou até mesmo a curto prazo podem levar a ocorrência de comportamentos anormais, aumento da frequência cardíaca, vocalizações, defecação e distúrbios alimentares (Bagshaw et al., 1994).
Figura 2: Cavalos estabulados individualmente (https://meiorural.com.br/).
Condições inadequadas de habitação em relação às oportunidades de interação social, podem afetar ainda as reações dos cavalos jovens ao treinamento e aprendizagem (Hartmann et al.,2012). Ladewig e Sondergaard em 2004 revelou que os cavalos jovens mantidos em grupos se adaptaram com maior facilidade ao treinamento inicial e tiveram frequências menores de comportamento indesejado do que os cavalos mantidos individualmente. Assim, como o obtido por Lesimple et al. em 2011, mostrando que manter os cavalos adultos de uma escola de equitação em grupos durante o dia reduziu seus níveis de reatividade, tendo consequências positivas para a segurança humana.
No entanto, manter os cavalos em grupo não é mais abundantemente aplicado na prática devido às preocupações dos proprietários do cavalo, sendo o risco de lesão durante as interações sociais o principal argumento adotado, entre outros, contra a manutenção de cavalos em grupos (Mejdell, et al., 2010). No entanto, o risco de lutas no alojamento em grupo pode estar mais relacionado à ocorrência por recursos limitados, como espaço e acesso à alimentação, conforme descrito por Jorgensen et al. em 2008.
O desenvolvimento e manutenção de um relacionamento humano-cavalo positivo é fundamental para escassear os acidentes relacionados com o cavalo e minimizar os pontos negativos do bem-estar dos equinos (Hausberger et al., 2008). Fatores como experiência inicial e o treinamento, raça e temperamento, desconforto crônico e condições ambientais influenciam a relação humano-cavalo (Hartmann et al., 2012).
Explorar as habilidades de etologia, cognição e aprendizado de equinos se torna imprescindível para se estabelecer princípios de treinamentos corretos e a relação humano-cavalo positiva. Isso pode ser melhor alcançado em animais com oportunidade de socializar com outros cavalos. Contudo, não há dados científicos suficientes sobre a manutenção de cavalos em grupo, podendo dificultar decisões na prática que melhorem o bem-estar dos equinos e a segurança humana, problema este que raramente é encontrado em outras espécies animais de produção.
TEXTO POR: Maria Eugênia Gaya Maçaneiro, 9° período Zootecnia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
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